foto Simone Mattos - reunião final na EM Paula Buarque
O Projeto ESCOLA DA PAZ, trabalhando o conceito de CIDADANIA ESCOLAR, visa a resgatar a autoridade dos pais, o respeito à escola e o senso de protagonismo dos alunos, que passa por obediência e compromisso. Saiba como funciona no Caderno de Apresentação e Orientações, em link na coluna à direita. - - : denilsoncdearaujo@gmail.com
O PROJETO ESCOLA DA PAZ, POR MIM CRIADO, E NO QUAL ATUAVA EM REPRESENTAÇÃO DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE PETRÓPOLIS, FOI ENCERRADO.SE VOCÊ O ESTÁ CONHECENDO NESTA VISITA, FIQUE À VONTADE E VISITE O BLOG. HÁ MUITA COISA QUE PODE SER ÚTIL A VOCÊ, À SUA FAMÍLIA E À SUA ESCOLA. FOI UMA AVENTURA MUITO LINDA. COMPROVE.ESTAMOS REPENSANDO UM OUTRO MODELO A SER IMPLANTANDO, COM PARCERIA DA OSCIP "REVIVAS".POR ORA, SE DESEJAR ACOMPANHAR AS MINHAS ATIVIDADES E PALESTRAS, VÁ AO MEU BLOG PESSOAL: http://denilsoncdearaujo.blogspot.com/Obrigado! DenIlson Cardoso de Araújo.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

BOA A SEMENTE, CERTA A COLHEITA

Denilson Cardoso de Araújo
 
Muitos pais me cercam, ao fim das palestras. Muitos trazem consultas, dúvidas, queixas. Mas vários deles me dizem que já exercem as práticas que anuncio como necessárias. Em verdade, se você reparar bem, minhas falas só são novidade porque sofremos de profunda amnésia moral. O que digo nas palestras, embora com fundamentação que a alguns surpreende, é o mesmo que já diziam nossos avós a nossos pais. Respeito, obediência, disciplina, diálogo, afeto, cuidados, responsabilidade. Bença, mãe.
 
Desses que assim me dizem, alguns se comovem, agradecidos, aliviados, porque estavam em dúvida se estavam corretos, já que todos mundo lhes diz o contrário. Que sejam frouxos, levianos, amorosos de um falso amor de gelatina e descuidos. Não, tenham amor exigente, que é o amor paterno por excelência. Esta aí Deus Pai, que não me deixa mentir.
 
Outros me confirmam que agem por essa “cartilha”, mas estão desesperados, porque “não conheço mais o meu filho”. Nestes casos, gosto de separar o joio do trigo. Pergunto a idade do filho encrencado. Quase sempre ele acabou de ingressar na adolescência, ou está vivendo sua fase final. Não é ciência, mas apenas para exemplificar, diria que aos 12,13 anos de idade, e aos 16, 17 anos de idade, temos dois marcos cruciais, dentro do tempo crucial que é a adolescência, em que os nervos dos pais e os corações das mães são especialmente postos à prova. Os hormônios enlouquecidos, a libido incentivada, as oscilações de humor características, a súbita depressão, as revoltas típicas, se misturam nesse mutante ser, que é o adolescente.
 
Costumo dizer. Fique tranquilo. Se você está fazendo essas coisas sobre as quais falamos, se você cria, agasalha, alimenta, protege, abraça, brinca, dialoga, exige, cobra, castiga, premia, disciplina, enfim, ama, e acima de tudo, dá exemplo, não se assuste! É só a adolescência. Ossos crescendo, dói. Troca de penas, fica mesmo esquisito. Daqui a pouco passa. Fique firme. Bilhões de pais passam por isso. Mantenha os cuidados. E a autoridade! Plantou boas sementes, regou, protegeu do sol forte quando era ainda muda, agora que começa a florir, é hora de afastar as ervas daninhas, as lagartas, os pássaros e as pragas. Muitas dessas coisas nocivas, o próprio adolescente traz no bolso, que o risco é um vício da idade. Seja firme, amoroso e tenha fé. Exerça a “arte da poda” (leia o meu artigo com este título). Semente bem plantada, bom futuro dará.
 
Costumo contar a história daquele episódio, em que sementes muito antigas foram encontradas em escavações próximas ao Mar Morto. Israel, 1963. Nas ruínas do palácio de Herodes, na fortaleza de Masada, estavam lá, dentro de um vaso, algumas mal encaradas sementes de tamareira. Trata-se de uma palmeira que dá as muito apreciadas tâmaras. Nome que, traduzido do árabe, significa “dedo de luz”. Luz que agora nos vai auxiliar nessa conversa.
 
Pois aquelas sementes estranhas de tempo foram recolhidas, catalogadas, analisadas e cuidadosamente guardadas. Anos mais tarde, em 2008, os cientistas recorreram às sementes para experimentos. Queriam saber de quando eram aquelas sementes e se vida carregavam. Uma coisa dependia da outra. Levaram-nas ao laboratório. Plantaram. Eram boas sementes! Deram raiz. Galhos dali se esticaram. Foram cuidadas, regadas, tratadas. A datação, pelo método do carbono 14, revelou que tinham cerca de 2.000 anos! Vinte séculos! Com o sucesso das sementes, o governo israelense pensa em restaurar o plantio dessas tamareiras especiais, de caráter medicinal, que foram disputado produto de exportação naquela época, e que se considerava extintas. As sementes vão reflorestar! Famílias porão à mesa, no Hanukkah judaico e no Natal cristão, tâmaras do tempo de Cristo. Tudo porque a boa semente um dia germina!
 
Assim é com o que ensinamos a nossos filhos. Podem ficar amortecidos ali, nesse coração de adolescente que às vezes endurece porque há dores de crescimento, que às vezes desobedece porque constrói autonomia, que às vezes parece que vai dar no abismo porque anseia voar, podem ficar amortecidos ali, os conselhos, os ensinamentos, o exemplo. Mas, esteja certo de que, um dia, na hora difícil, teu filho beduíno e sedento vai achar num canto do ser, o vaso onde você plantou as boas sementes. Aquilo tudo, então, regressa e se faz uma lâmpada, para esse pedaço de você que você tanto ama. E ele vai te agradecer, porque vai florir. Vai prestar pra alguma coisa. Vai ser alguém. E vai te honrar. Vai agradecer teu zelo e sacrifício. E, sabe o que mais, vai te usar de exemplo quando falar aos próprios filhos, que um dia adolescerão também para desespero desse futuro pai ou mãe que você pôs no mundo. Daí, com teus brancos cabelos, diga a ele: confie nas boas sementes!
 
É bíblico. “Ensina o menino no caminho em que deve andar e até quando for velho não se desviará dele” - Provérbios 22:6. Confie nas boas sementes, pai. Jamais desanime, mãe. A missão do agricultor se completa na oração e na paciência.

sábado, 10 de agosto de 2013

CARTA APOSTÓLICA DO ECA

 
Denilson Cardoso de Araújo
 
A Bíblia tem 66 livros na versão dos evangélicos, 73 na católica. De 1.000 a 3.500 páginas. Menos de uma página, a II Carta de João, seu menor livro. Imagine que deseja dar a alguém entendimento do cristianismo e sua história. Mas só tem o livro de II João. Leia, que você entenderá absolutamente tudo sobre o cristianismo. Isso é verdade? Dizem todos, quando faço essa pergunta às plateias que, mesmo se considerando inspiração do Espírito Santo, não, não é possível alcançar a profundidade do mister cristão apenas com um fragmento. 


O Brasil possui ordenamento jurídico. As leis, normas e regulamentos do país. Como na Bíblia, raramente uma norma esgota seu tema. Leis se interpenetram, fios em trama de rede, no feliz modelo de Norberto Bobbio. Para conhecer um correto agir, precisa mais do que só um fio da rede. Uma rede, para suportar um corpo, não o faz com um fio só. Uma só lei não estrutura um país. 
 
Muita gente quer lidar com crianças e adolescentes somente com o Estatuto da Criança e do Adolescente. Ainda por cima, aviltado por interpretação errônea, permissiva e ruinosa das relações familiares, da autoridade dos pais e da escola. O ECA não é, repito, lei que passa mão na cabeça de crianças e adolescentes, para que agridam, engravidem, delinquam. Ainda que assim fosse, o ECA é parte de um sistema de normas às quais não se sobrepõe. Eventual distorção de um item seria corrigida pelo conjunto.
 
Certa vez numa quadra, falava à multidão de adolescentes, para acordá-los de abismos. Em algum momento o discurso assertivo gera desconforto. Insisto ser o ECA lei de cidadania, não de direitos. Adolescentes jamais podem tudo. Têm obrigações, como qualquer adulto! Vaias. Localizei o foco maior dos apupos. Chamei. Você, que vaia alto e forte, chega aí. O garoto desceu à quadra, sob aplausos, tom de desafio, a plateia ansiosa pelo embate do moleque que tudo pode contra o velho chato que dá lição de moral. Busquei o carrinho de supermercado que preparara. Silêncio para as rodinhas rangendo, de livros até à boca. Leis. Disse ao garoto. Sabia que tudo isso aqui é o ECA, rapá? Não é, ele riu, o ECA é um livrinho assinzinho. É o ECA, repeti. Não é, retrucou. É. Não é. Pega aí o livro de cima e lê, pra todo mundo aprender de verdade o que é o ECA! O menino leu: Código Civil Brasileiro. Sabia que tudo aqui são obrigações de todos os cidadãos, sejam adultos ou adolescentes? Só não são cobradas naquilo em que a idade proibir? Sabia que aqui te obriga a obedecer pai e mãe? Sabia não... Então pega a lei e bota ali na linha da quadra, que é pra nunca mais esquecer, rapá! A lei foi para a linha lateral. Lei seguinte. Lê aí, pro pessoal. Código Penal Brasileiro. Sabia que tudo aqui são obrigações suas? Condutas proibidas a qualquer cidadão, adulto ou menor de idade? A única diferença é que, no caso de vocês, o crime se chama ato infracional. Mas brigar, ofender, abusar, xingar, injuriar, tudo isso vocês são proibidos de fazer. Coloca na linha da quadra, pra nunca mais esquecer, rapá! A plateia em silêncio, surpresa pela verdade em sua ênfase. O carrinho se esvaziou, lei a lei. Constituição Federal, que dá como princípio fundante do Estado Brasileiro, o princípio da dignidade da pessoa humana! Dignidade que tanto vocês às vezes afrontam, no bullying ao colega, nos maus tratos ao professor. E a Lei Maria da Penha, a Lei de Entorpecentes, os Códigos de Processo, o Código de Trânsito, o Estatuto do Idoso, o Estatuto da Igualdade Racial e tantas mais. Quando lá estava o comprido fio de leis pelo chão, sobrou no fundo do carrinho a lei magrinha, superestimada e mal interpretada. Chegou a hora dela. Pega e lê, por favor. Já colaborativo, o menino leu, finalmente: Estatuto da Criança e do Adolescente! Coloca, então, lá no fim da quadra. O ECA é essa leizinha do final, nobre e bonita, mas considerando sua missão cidadã, também todo o resto que aí está, afora tantas que não pudemos trazer para o ginásio. 
 
Chega de achar que crianças e adolescentes podem tudo. Jamais puderam. Jamais poderão. Vamos ler o resto da Bíblia. Vamos ler o resto do ordenamento. Em geral os adolescentes que vaiaram, depois aplaudem, muito gratos. A verdade é bonita.


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

PESSOAL BACANA DO ESCOLA DA PAZ!!!

 
Aí, essas guerreiras bonitas ,
depois da reunião que fizemos lá no Fórum hoje, 05/08,
para a retomada do Projeto!
 
Sempre uma energia boa!

ESCOLA DA PAZ - RETOMADA do 2º semestre/2013!


OCORREU NA MANHÃ DESTA SEGUNDA-FEIRA, dia 05/08/2013, a Reunião de Retomada do Projeto Escola da Paz.
 
COMPARECERAM AS ESCOLAS: Amélia Antunes Rabello, Augusto Pugnaloni, Beatriz Zalescki, D. Cintra, Dr. Theodoro Machado, Fábrica do Saber, Gov. Marcelo Alencar, Hercília Henriques Moret, João Kopke, Mons. João de Deus, Padre Corrêa, Pref. Jamil Sabrá e Sta. Terezinha. A Germano Valente – COMAC chegou após o encerramento. Outras escolas importantes no Projeto, infelizmente não compareceram ou justificaram. Como é começo de semestre atribuímos a este fato algumas ausências, aguardando contato das escolas para seu engajamento.
 
PELOS PRESENTES, FORAM DEBATIDAS E RESOLVIDAS AS SEGUINTES QUESTÕES:
 
CARTILHAS ANTIDROGAS – As escolas deverão cumprir o compromisso já antes assumido, de utilização das Cartilhas Antidrogas disponibilizadas pelo Tribunal de Justiça. Para isso, efetuarão a demanda das cartilhas, pelo e-mail: denilsoncdearaujo@gmail.com, indicando quantos alunos poderão ser alcançados, do 6º ao 9º ano. Como não há cartilhas para todos os alunos, serão fornecidos exemplares em montante proporcional à demanda, para orientar o trabalho de multiplicação das informações. As escolas deverão apresentar as realizações nesta área até o encerramento do semestre do Projeto, o que será relatado na cerimônia de fechamento do ano;
 
NOVAS ESCOLAS (“AMADRINHADAS”) – Novas escolas ingressarão no Projeto a partir de “amadrinhamento” das escolas já participantes. Isso significa que as escolas que receberam o Projeto e dele se beneficiaram, indicarão escolas que julguem possam ser ajudadas pelo Projeto. Devem ter ligação com as escolas, por amizade com a direção, professores e /ou alunos, e devem explicar como o Projeto funciona, inclusive indicando a necessidade de consulta ao Caderno de Apresentação e Encargos (disponível no blog). As indicações deverão ser feitas para o mesmo e-mail já citado. Após isso, a própria escola deverá apresentar seu pleito, por via telefônica e/ou pela ficha de inscrição (constante do blog). Daí a Vara realizará o contato para o agendamento necessário.
 
II ENCONTRO DOS AGENTES DA CIDADANIA ESCOLAR – Ficou acertado que ocorrerá no próximo dia 12/09/2013 na Fábrica do Saber, entre 09 e 12 horas. Participarão os Agentes da Cidadania Escolar já diplomados e atuantes. Novos agentes somente ingressarão após futuro treinamento. Para evitar transtornos e transportes com o lanche, ele será providenciado pela Escola anfitriã, sendo seu custeio (estimado entre 10 e 15 reais) rateado entre as direções das escolas participantes do evento.
 
CAMINHADA DAS ESCOLAS DA PAZ – Ficou acertado que - como forma de mobilização e incentivo aos jovens das escolas participantes do Projeto, bem como para divulgação das ideias do Projeto - ocorrerá uma Caminhada das Escolas da Paz, contra o bullying, a indisciplina e pela paz escolar, a ser realizada no próximo dia 04/11/2013, segunda-feira. O trajeto sugerido se fará, após Concentração na Praça do CENIP (Bosque) com saída pela Rua Nilo Peçanha – Museu – Catedral – Koeller – contorna a praça da Liberdade – retorna pela Koeller – e encerra na Praça da Águia. A concentração se dará às )9 horas com saída às 10 horas. Ocorrerão concentrações para falas e esclarecimentos na saída e na chegada. Durante o trajeto os participantes portarão cartazes, faixas alusivas ao evento. Será providenciado um equipamento de som próprio para a ocasião. Mais próximo da data será escolhida uma comissão de organização.
 
CAMISETAS – A Profªa Bianca e Valéria ficaram de fornecer orçamentos para a confecção de camisetas do Projeto. A partir dos valores será definida a forma de aproveitamento das camisetas (se pelos agentes, se por todos os alunos).
 
CONGRESSO DAS ESCOLAS DA PAZ – O tema ficou novamente em suspenso, tendo em vista que ainda não vislumbramos um formato e um local adequados.
 
ENCERRAMENTO do Projeto no 2º semestre – Para que não percamos a oportunidade de uso do auditório, ficou indicado o dia 27/11 – quarta-feira, às 09:30 horas, no Teatro Sta Cecília (local a confirmar).
 
REPASSE – A exemplo do que fizemos no semestre passado, teremos “repasse” nas escolas que já receberam o Projeto, nos mesmos moldes. Uma ida às escolas para estar com os alunos, em apenas um turno. Para isso, a escola fará os remanejamentos que puder, inclusive reunindo os turnos em um só, ou trazendo para o turno mais cheio os alunos do turno menos numeroso. Com os alunos a atividade consta de um resumo da palestra, seguido de gincana dos alunos. Com os pais, a atividade é um resumo da palestra, seguido de um debate com perguntas e respostas. Para liberar agenda, deverá ser estudada a possibilidade de reunir mais de uma escola na mesma atividade. Das presentes, têm direito ao repasse a Hercília Moret e o Padre Corrêa, que ficaram de se entender sobre a atividade conjunta.
 
OUTRAS VISITAS À ESCOLA – Para as escolas que já receberam palestras e repasse, ficou de ser demandada uma nova forma de intervenção na escola. Reunião menor, apenas com grupo de alunos interessados, conversa nas turmas. A escola faz a demanda e acertamos o modelo de intervenção.
 
Foi o ocorrido.
 
Gostaria de lembrar às escolas que se inscreveram no Projeto, receberam as palestras, a necessidade de cumprimento da contrapartida esperada pelo Tribunal de Justiça. Há obrigações das escolas que, em muitos casos, não vêm sendo cumpridas. Pedimos que vejam o Caderno de Encargos, e que se integrem o quanto antes. Aguardamos o contato

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

PAIS BERNARDINHO


Denilson Cardoso de Araújo
 
 Anderson Silva, gênio do MMA, chegou ao treino. Assistira vídeos das últimas lutas e declarou, com convicção. Estou carente no golpeamento de pernas, baixo alcance no giro dos pés, vou treinar muay thay. Os treinadores olharam o lutador, estranhando atitude, diagnóstico e prognóstico. Você está errado. Vimos os mesmos vídeos, somos seus treinadores e o seu problema atual é fraca agilidade na esquiva. Temos programação e metas, rapaz. Você precisa se concentrar é no boxe, para melhorar o jogo de pernas e o balanço do quadril. A coisa vira discussão. Anderson quer muay thay. Os treinadores, boxe. A Academia pára, na expectativa do desenrolar do embate. 
 
 Essa história fictícia ilustra momento de palestra que faço nas escolas. A essa altura, já dissertei bastante sobre a importância de alunos respeitarem e obedecerem pais e professores, conforme prescrevem a lei e as necessidades da sua formação. Findado o pequeno conto, questiono. O que aconteceu no tatame naquele dia? O Anderson treinou boxe ou muay thay? Levanta a mão aí! As mãos erguidas se dividem. A maior parte fica na dúvida. É quando afirmo, com a maior ênfase possível. O Anderson treinou boxe naquele dia, rapá! Ele quer ser campeão do mundo! O melhor lutador do mundo! E quem quer ser campeão aprende que é necessário obedecer treinador!
 
O mote da pequena ficção pode ser o César Cielo. Chega ao treino da manhã contrariado com o frio inesperado. Problemas no aquecimento da piscina. Meteu o pé na água, sentiu o inverno líquido e decretou. Hoje não treino, água fria. Outros nadadores já se exercitavam. O treinador disse: -Tá maluco rapaz, temos competição, nossa programação te exige 40 piscinas hoje. Na água, rapaz! Não vou! A piscina ficou tensa, descrevo, e repito o ritual de perguntas, levantamento de mãos e a conclusão que leva, na humildade do aprendizado, ao cumprimento de regras, obediência ao treinador, à medalha de ouro e ao recorde mundial.
 
Filhos há que jamais serão vencedores de nada, ficarão à margem do caminho, aborrecentes de 30 anos, desempregados, semianalfabetos e sem camisa, lesmas soltando pipa em pleno horário comercial na comunidade, porque não aprenderam a respeitar e obedecer. Há pais que - por não terem aprendido a determinar, comandar - jamais terão nos olhos doces lágrimas luzentes da alegria de ver filhos nos pódios da vida, no emprego decente, na família digna, no reconhecimento honrado. Terão as lágrimas amargas de frustração e abandono.
 
Quem já viu o Bernardinho à beira de uma quadra assustou-se com o treinador apoplético, sanguíneo, furioso, exigente. E absolutamente competente e vencedor. No início da sua carreira, ficávamos com pena das meninas da seleção feminina de vôlei. Flagrávamos lágrima em uma ou outra atleta. Achamos exagero, crueldade, cobrança excessiva. Não era. A carreira de Bernardinho provou o quanto estava certo nos métodos. Deles faz parte, inescapavelmente, a sua personalidade. Perguntem aos jogadores se desejam abandonar este treinador excêntrico? Não, porque querem ser campeões de tudo, como são.
 
Há, sim, treinadores de fala mansa. Podem ser competentes, como Parreira o foi, dando-nos título mundial no futebol. Mas com fala mansa ou fervor, aquilo de que nenhum treinador campeão abrirá mão é da autoridade. Felipão foi campeão mundial em 2002 abrindo mão de Romário, contra clamor popular que o reivindicava. O mesmo Felipão ganhou a Copa das Confederações de 2013, deixando de lado apelos por Ronaldinho Gaúcho. Veteranos cheios de exigências, más influências à obediência dos grupos, não tiveram vez com o treinador. Pois Bernardinho, em dada altura, teve sob comando o maior gênio que já apareceu na posição de levantador. Melhor jogador do Mundial, Ricardinho era nome certo para um trono duradouro na posição, no Brasil e no mundo. Às vésperas do Pan Americano do Rio, em 2007, entretanto, o atleta resolveu afrontar o treinador com exigências, desobediências e desagregação do grupo. Bernardinho foi claro. Perco o melhor jogador do mundo mas não perco a harmonia do grupo, que passava pela preservação da sua autoridade de treinador. Sob vaias, críticas, receios e sustos, cortou Ricardinho da seleção. Ganhou o Pan. Ricardinho foi para a Europa e apagou-se, não foi o mesmo, porque abriu mão do comando que o exigiria a ponto de mantê-lo sempre no mais alto nível que ele podia alcançar.
 
Nessas histórias aos alunos, já chamei a Equipe Escolar à frente. E digo. Esses profissionais aqui, que tantas vezes vocês desprezam e agridem, são os treinadores dos Anderson Silva, dos Cesar Cielos, dos campeões da vida que vocês podem ser. Por isso, peço aplausos para eles! Os aplausos chegam, já entusiasmados. E quero que o façam de pé! E de pé, eles ovacionam os professores, inspetores e merendeiras. E, aos pais e aos professores digo, sejam Bernadinho! Às vezes, a par de ensinar, educar e apoiar, é necessário ser severo com o adolescente, deixá-lo na reserva, cortá-lo da seleção. Aliás, cabe mencionar que o substituto de Ricardinho foi o próprio filho do técnico. Corajoso, esse pai. Bancou e, com o desafio, melhorou o jogador que sabia bom, e não protegeu o filho das vaias estrondosas que o menino recebeu. Rigor de pai e coerência de treinador melhoraram o caráter do filho e o brio do atleta. Bruno em 2012 foi eleito o melhor do mundo. Assim é. Pais Bernardinhos fazem famílias campeãs.
 
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Originalmente publicado em
denilsoncdearaujo.blogspot.com